quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Minha Morada é teu Olhar

Querido amigo,

Hoje, mais que antes, sinto tua presença. Estás comigo nas ruas, nas praças, nas aulas - mesmo nas aulas. Se viro suave a cabeça para a esquerda [ou para a direita] lá estão teus olhos mirando sorridentes.

Sinto falta deles, ainda que estejam aqui, sinto falta dos sorrisos, dos cheiros, do ar cálido de tua respiração na minha nuca. E dos teus olhos penetrando os meus com força e suavidade.

Há uma potência no encontro dos nossos olhos que conduz a minha própria alma.

Isso que resulta do encontro entre eu e tu é absolutamente único. Ainda que haja encontro sempre e com tantas outras pessoas e lugares jamais um encontro será igual. Mesmo que seja entre nós. Cada encontro produz algo único. A cada ponto, a cada lugar, em cada tempo.

Sou a mesma. És o mesmo. Mas o que se dá entre nós é outro. E sou outra a cada vez que te despedes. A cada vez que me despeço. Não poderei voltar a ser quem fora, nem mesmo entre nós.

Há um tempo espaço que se estende e se alarga produzindo imagens holográficas diante de mim. És a cidade que se revela a cada encontro.

Há tanto que se move dentro desde que nos encontramos pela primeira vez. Sem quaisquer expectativas, noto o quanto sou outra. O prazer da solitude agora se acompanha de uma espera agridoce que ilumina os dias como aquele em que nos revelamos em braille sob o sol da tarde.

Abro meus olhos. Teus olhos surgem. Sorrio. Encontrei minha morada em teu olhar.

Sigo.

Tua,

Anita

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