sábado, 14 de outubro de 2017

Carta das Ausências

Querido Caio,

Ainda estou aqui. Sua ausência a esta altura da viagem é a presença mais constante. Fui tomada pelo inesperado e vou ficar mais dois dias. Montevidéo me acalma. O Uruguai me acalma. Toda a calma e a paz que preciso faz parte daqui.

Ontem fui a Colônia del Sacramento e meus olhos viajaram pelas pradarias por horas imaginando as montanhas, os cumes, os montes e as serras. Não havia. Não há por estas plagas tais paisagens.

Então vi o mar se abrir diante dos meus olhos e entrei numa canoa que me levou ao encontro de minhas urgências, remei por horas ensaiadas e ainda assim você não estava lá. Não somos urgentes e canoas não sobem montanhas dirias. E eu não poderia deixar de concordar contigo.

Tua ausência ficou ainda mais presente. Busquei teus olhos pelas ruas, nas praças, quis saber notícias e pela primeira vez disse sim para as nossas impossibilidades. Elas soam tão sólidas, não sei se foi o frio cortante aqui no Cone Sul ou se a distância temporal. Inevitável. Sigo.

Vento nos cabelos.
Pôr do sol.
Câmera se abrindo em panorâmica imagem das ruas largas, dos muros de pedra, do mar. Meu infinito particular.
Sigo.

E quanto mais teus olhos me buscam, mais faz parte de mim tua presença. Por um instante, a revelia de toda lógica sinto a força do encontro que não se desfaz. Sinto-me inteira. Inteira em mim. Inteira em ti. E sigo. Suave, quase em paz, sigo esse sentido de pertencimento que encontrei nos teus olhos.

Abrigo.

Os pensamentos tomam o céu e sei que por onde for, estarás comigo e cada hora juntos será a eternidade em mim. Sinto que és o que és. Sou quem sou e de nós algo surgiu. Meu mundo é outro depois que me arrisquei nos Canyons e me entreguei a teus picos. Depois que penetrastes meus abismos e mergulhastes nas minhas profundezas.

Sou eu pelos Bulevares de Montevidéo ou pelas calles de Colônia.
És tu nas montanhas, nos montes ou nas serras.
Somos em qualquer parte testemunhas de que existe encontro a despeito de qualquer impossibilidade.

Fica com a força das deusas enquanto me entrego às brumas.

Tua sempre,

Anita






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