quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Carta sobre o Amor

Querido Caio,

Bem sabes como sou. Cá estou às voltas com mais uma mudança. Desta vez, deixei tudo para trás. Não há vida embalada em 60 volumes, não há um único bem durável, restaram apenas roupas e livros, alguns objetos devocionais, memórias e afetos. Sigo a vida leve que sempre desejei. Concluo a volta do parafuso. Novo ciclo se inicia. Nova cidade, novos amigos, nova profissão. Tudo novo [de novo!]. Sigo o fluxo.

Quando aqui cheguei, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, há mais de ano e dia, me perguntaram: É definitivo? Definitivo sempre foi um conceito desafiador para mim. Respondi: Sim! É definitivo enquanto durar. Durou bastante, o suficiente para criar vínculos especiais, constituir memórias importantes e grandes aprendizados, por menores que fossem. Sigo.

Descobri agora, querido amigo, que meus vínculos se dão com pessoas, não com lugares. Os lugares me trazem memórias, boas memórias de encontros, desencontros, aprendizados. Sigo o caminho. A imagem é a da mulher com sua mochila nas costas, caminhando numa estrada sem fim. Há uma trilha sonora [sempre há] para cada parte do percurso. Sigo.

Definitivamente durará o tempo que for necessário e suficiente para viver meus vínculos nas montanhas. Tempo suficiente para ser feliz para sempre. Nasci para a felicidade.  Quanto é suficiente? Não sei responder. E não sei por que minhas relações com pessoas são para sempre, sem limite de tempo. Meus vínculos são constituídos desde a gênese com tal profundidade e entrega que nem ausência, nem distância são capazes de dissolver. E se dissolvem, é que não eram o que pensara que fosse. Sinto especial apreço por meus afetos. Não tenho apego. E disso se faz o que chamo Amor.

Amor é um rio que flui. Ele tem margens que lhe dão continente, mas não tem barreiras que lhe impeçam o fluxo. O Amor, querido amigo, é livre. Se não é livre, já não pode ser Amor.





E as barragens, me perguntarás? Observe-as. Elas são estruturas artificiais cuja função é reter a água [o fluxo?]. Elas contém o fluxo das águas. Elas contém a força das águas. Elas contém! Vez ou outra, no entanto, enchem tanto que precisam sangrar, sob pena de causar estragos por todos os lados. E por que? Porque não é natural refrear o fluxo do rio, da vida, do Amor. Por isso, sigo!

Sigo o fluxo da vida. O movimento. O Amor. Sigo.

Você vem?

Tua,

Anita


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