segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Carta em dia de Chuva

Caio A, querido! É que sou tantas que nem mesmo eu sei exatamente quem sou. Enquanto te escrevo minha alma chove. E chove tanto e tão forte que chega a transbordar pelas janelas e deslizar pelo rosto. Talvez você perguntasse por que minha alma chora, e eu sequer saberia responder. 

Talvez seja a chuva nas vidraças, talvez o vento frio, mesmo o céu nublado. Mas pode ser nada disso, quem poderá saber? Há em mim esse sentimento [ainda sem nome] que me contém, embora não me defina. Há esse sonhar contraditório que embaralha as linhas e os traços no mapa e desloca os sonhos ora para cá, ora para lá. 

Há esse desejo de pegar o mundo com as mãos e fazer amor com ele, abraçar todas as possibilidades, realizar tanto, dar piruetas no ar e mergulhar fundo, num mar azul e esmeralda. E me pergunto se já não tenho feito isso. Quando olho para trás e vejo as tênues pegadas que deixei, só eu sei os caminhos por onde passei. Meu nome jamais estará inscrito na história, mas conheço meu papel, sei as linhas que escrevi e as estradas que percorri. Conheço cada estrutura proposta, cada ponte construída, cada realização [e isso me basta]. Mas será suficiente?

Meus pés frios ora se encolhem sob a cadeira, enquanto escrevo essas linhas para ti. Vi o livro que Maria Cláudia enviou a Alberto. Li as primeiras páginas, percorri as cartas e quase pude vê-lo nelas. Senti um arrepio  percorrer a espinha. Éramos ali - tu e eu - nas linhas de Caio [Fernando Abreu] para Amanda [Costa]. Embora tenha ficado fascinada, afastei-me daquelas letras. Por um instante senti-me desnuda diante do espelho. Alma revelada [lá vem ela novamente!]

Talvez as cartas tenham um sentido de exercitar a espera. Talvez seja uma forma de falar sem ser interrompida ou de por alguma ordem nos sentimentos caóticos. Mas talvez [sempre ele] seja um modo de tocar essa dor oculta [mencionada por ti] com a ponta dos dedos e fazer vê-la por detrás dos véus da escrita poética e insistentemente metafórica.

Sim, a dor... que dizer da dor. Melhor nem dizer por que a chuva lá fora parou e a alma começa a enxugar-se.

Beijos [sempre no plural]

Anita

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Carta a Caio A. - O Sentir e o Não Sentir

Querido Caio A.

Tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Minha vida, como de hábito, é regida pelo balanço do mar. Ondas que vem e que vão. Ondas que arrastam até me por de joelhos, ondas que passam, ondas em que flutuo, deixando [me] levar.

[minha garganta arde em fogo enquanto te escrevo]. Coisas não expressadas,dirias tu. Pode ser, diria eu. Fato é que não consigo expressar. Às vezes o silêncio tem tons e tonalidades e é tão claro que nos cega [não fui eu quem escreveu, foi M.]. Neste caso o silêncio é claríssimo, mas não enxergo. E como não vejo, não falo e se não falo fica aquilo preso na garganta esquentando, queimando, querendo sair. Mas o quê?! - diria eu.

Sinto-me... Vulnerável.

Sem lugar, sem lar... Mas não é tristeza, é quase nostalgia, mas nostalgia não é. 

...Há em mim esse sentimento sem nome, sem CEP, sem nada. Sentimento de ser amada [voz passiva?]. Ora arrasta uma ponta de medo, ora põe sorrisos tortos no meu rosto. Faz olhar pela janela em dia de chuva e sentir que as gotas que escorrem pela vidraça, escorrem em mim. É sentimento de interrogação [que faço com isso - que há para fazer]. É preciso fazer ou o melhor é fazer nada? 

Há uma canção que diz 'saber amar, é saber deixar alguém te amar'. É preciso ser inteira e dizer sem máscaras: 'Lamento, nunca soube e não sei [ainda,eu acho]. Vulnerabilidade, pode ser a palavra que busco para designar o tal sentimento anônimo que habita o peito, as pernas, o estômago, o corpo [afinal, sempre ele].  Saber amar: Work in process. Será? 

Deixo-te agora, com o vento soprando frio em mim, as gotas de chuva escorrendo no avesso de mim, atrás do que está por trás de todo sentimento [não sentimento].

Sua,

Anita.











segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Carta a M.

M.,

Esse (re)encontro me tirou o fôlego, ao tempo em que abriu portas e janelas, deixando fluir novos ares por aqui.

Os encontros, assim como os (re)encontros provocam deslocamentos, por mais sutis que pareçam. Não somos [sou] imunes àqueles que passam [ou ficam] em nossas vidas, mesmo que por curtos [curtíssimos?] espaços de tempo. Há quem diga que algo se deixa e algo se leva do outro, mesmo que apenas lembranças.

Certamente esse (re)encontro provocou deslocamentos em mim. Despertou sentimentos e sensações. Fez borboletas nascerem no estômago, baterem asas até chegarem à boca, para aí tomarem conta do céu, em busca de liberdade. Liberdade de ser.

Mas era tão novo tê-las batendo asas no céu da minha boca... Tive que conter a língua, que afoita, queria expressar as sensações despertadas. As borboletas são delicadas e suaves. Carece ter cuidado. Um susto pode machucá-las. A língua [ah, a língua...] é impetuosa. Eternamente inconformada por ter de conter-se [ou estar contida?].

Nessa dança leve e louca, a língua revelou-se [me]. E tive medo do que fizera e de quantas borboletas posso ter matado. E acho que matei algumas, outras me escaparam pela boca aberta. Algumas seguem batendo asas no estômago e acalentando sonhos. Sonhos de ser.

E ser não é pré datado nem rotulado ou  (pre)visível. É presente [em todas as suas acepções]. O que é esse reencontro, senão o que é e o que  tem sido? Sinto que aqui não cabem etiquetas. Não há espaço para conceitos ou definições. Tal qual as borboletas, o (re)encontro é. E é agora e em cada agora vai se constituindo [no gerúndio mesmo] por que é movimento, transformando-se, transmutando-se. É.

É a troca [de idéias]. É fruir as sensações que provoca. É a liberdade de expressarmo-nos plenamente, sem censura ou filtro. Sem fronteiras ou muros. Sem medo. Sem medo de ser, simplesmente ser. Por que entendemos a linguagem, (re)conhecemos [?] os signos e o valor desse fluxo livre e limpo.Não é conceito e traduz um novo olhar [e jeito] de tecer relações.

Afinal, não pode haver começo OU fim, mas há começo E fim  [dos ciclos, dos passos, dos caminhos, dos sonhos, das realizações].

Não importa o que sejamos. Somos.

Um em relação ao outro, simples assim.

[no plural]

Anita




domingo, 6 de novembro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sobre Virgílio e Minhas Sentimentalidades

Suas palavras deixaram-me sem fôlego, Caio. Desejei por um lapso de tempo encontrar alguém que me olhasse [e me visse?]com esse teu olhar sobre Virgílio. Eis meu maior pesar: Não ter conseguido despertar  os afetos que ele, sorrateira e abundamente, acordou. (dramática)

Foi minha ficção, não foi? Foi a farsa de amar um Caio Marques inventado [por mim ou por ti?] que fez com que não me amasse mais [algum dia terá me amado?].Passo os dias e as horas compulsiva em busca de tuas cartas. Elas não chegam, Caio. Não tens mais olhos para mim. Só podes ver [e viver] Virgílio. (mimada)

Não fosse esse ciúme infame [de onde vem?], que assaltou-me a alma desde que soube de Vírgilio em tua vida, eu te contaria sobre as belezas que tenho vivido [sim, tenho vivido!] Não tens idéia... Sei que pareço Maria Emília ao misturar o ciúmes à minha narrativa corriqueira, mas a verdade [se é que sei o que é a verdade] vem se desvelando aos poucos: Não saberia viver sem o drama [saberia?]

E Caio Marques [aquele que criei] está se virando do avesso dentro de mim, cada vez que bato as pestanas. Sabes o que é isso? Cada memória do que vivi [ainda não sei o que realmente vivi], cada lembrança é surreal. Não consigo entender como não vi, o que para ti era cristalino. Como não me dava conta do tamanho daquela farsa. Como me submeti? Sim, agora sei, eu me submeti. O que faz uma mulher como eu submeter-se assim a um homem? Sinto-me a própria Scarlet O'Hara a apoiar-se no arbusto, ocaso atrás de si ''jamais hei de submeter-me novamente''!

Conversando com D. Marocas - velha bruxa boa - dei-me conta de que ele é um sociopata e eu quase poderia ter sido chamada 'esquizofrênica', tal o grau da fantasia criada  [em mim ou por mim, afinal?] ao enroscar-me naqueles braços longos e naquelas palavras doces cheias de afetos e carentes de sentido.

Ah! Perdoa-me o destempero. Mas estou tão aliviada por tê-lo pelas costas e ao mesmo tempo me indigna meu comportamento. Hei de perdoar-me, Caio A. Mas por ora, um carrossel gira e gira em minha cabeça, tonteando o coração e embolando a racionalidade que me resta. 

Não falarei sobre isso agora. Vou sorver contigo esse prazer intenso que é a descoberta do novo amor. Vou brilhar meus olhos em uníssono com os teus e derramar sobre Virgílio e sobre ti, minhas mais sinceras bençãos. Afinal, afeto é o que nos une. Seja feliz, meu amigo e viva esse minuto como se fosse o último, a cada piscar de olhos.

Afetuosamente,

Anita Lopes 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Blog da Maria: Carta

Blog da Maria: Carta: De súbito dei-me conta de tudo a que me submeti: à mordaça, à convivência/conivência com aquela situação escusa. Ai! Fico feliz em saber qu...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Alberto Tibaji: Para você

Alberto Tibaji: Para você: Ao seu lado. Talvez tenha sido casual. Há palavra mais imprescindível do que essa? Talvez, talvez. Como foi mesmo que eles me disseram? Ah,...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Resposta ao caio

Querido Caio,
Desculpe a falta de comprometimento que tive ao demorar a responder sua carta. A verdade é que eu não consegui pensar em o que exatamente responder. Me deixastes sem palavras. E gostaria de lhe dizer que... Enquanto estávamos na festa pude ter o prazer (ou não) de ter uns flashbacks. Lembro-me claramente de alguns encontros nossos nessas ruas e becos da cidade em que me traz ótimas lembranças. Foi uma boa época. E o momento que tivemos juntos naquela noite pude pensar um pouco no nosso passado e como mudamos. Sim, consegui perceber nitidamente os traços da maturidade e das mudanças em sua pele, nas suas expressões, em você em si. E meu caro, você sabe tão bem quanto eu, que não sou apegado -como você- aos detalhes. Mas é impossivel desprezar algo tão marcante.

Quanto a sua dor e ao precipicio que lhe rege, pode ficar tranquilo, nao falarei com ninguem à respeito nem mesmo com a minha própria mente. Todos temos machucados que ainda não foram cicatrizados pelo tempo. Sinceramente, espero que você, querido Caio, possa fechar essa porta o mais cedo possível.

Devo confessar que te ver foi como se eu tivesse entrado em uma máquina do tempo e de repente eu era um universitário novamente. Passado esse primeiro momento com gosto de juventude apressada,voltei ao meu presente e enquanto eu guardava seu saca-rolhas (também não sei se tem hífen) ,estranhamente, lembrei de nosso primeiro beijo. E todos os acontecimentos que se procederam depois disso foram um estímulo para o que eu sentia por você no passado pudesse ser novamente aberto.

Sim, Caio, sim. Eu também senti o mesmo. E começo a me perguntar se eu, de fato, fechei essa porta que tem escrito seu nome e se realmente parti para outra, começo a me sentir confuso, confesso. Por que apesar de ter me batido todas essas emoções novamente, eu não posso ignorar meus sentimentos pelo homem o qual sou casado e não conseguiria viver à distancia.

O fato é: sinto por você,sim, algumas coisas que não consigo caracterizar. É verdade sim, que você mexe comigo quando eu te vejo ou troco palavras com você. Sim, você é especial para mim,faz meu coração palpitar mais forte. Talvez você pudesse ser o tão esperado amor. Mas não consigo trocar tudo o que foi estabelecido em minha vida em prol de um passado, que apesar de ter sido ótimo,mas que não deu certo, consegue compreender, Caio? Não posso e não devo, trocar minha segurança e meu conforto por algo tão incerto.

Talvez tenha sido um erro nos encontrarmos. Ao invés da nostalgia que eu visava ter,tive a má sorte de sofrer com essa confusão no meu pobre coração e não busco por esse tipo de aventura se eu não estiver confiante de que será uma boa viagem,se é que me entendes.

Grato pela noite e estadia,

Pedro.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Amor não morre, apenas muda de lugar - Carta à D. Maria

Querida D. Maria: Entendo. Eu o amo ainda, mas o amor mudou de lugar. Deixou o quarto, a sala e a cozinha e foi para o cômodo das boas lembranças que não voltam mais.

Fui uma daquelas mulheres de Atenas, vivi para ele, o que era um grande orgulho para mim. No incío, antes dos terremotos que abalaram esse amor, me banhava em leite e me perfumava para ele, esperando ansiosa pelos momentos em que estaríamos juntos. Mesmo fustigada, pedi, até implorei por sua presença em minha vida. Mirei-me naqueles exemplos, das histórias tantas vezes repetidas quando era menina, e por ele sofri.

Assim, quando partia para a batalha por seus ideais, eu o esperava paciente tecendo um tear de afetos e sonhos, esperava sua volta para saciar a sua sede, para matar a sua fome [de leão]. E assim era: chegava faminto e eu o alimentava de carne, de afagos e afetos.

Tantas vezes despi-me de qualquer orgulho, apenas para estar com o guerreiro de Atenas, escolhido para habitar meu coração. Mas quando ele, contumaz, buscava nos braços de outras melenas os afagos e afetos que lhe reservava com exclusividade, fui morrendo aos poucos. E meus olhos antes brilhantes quando ele voltava pros meus braços, foram ficando opacos e distantes.

Ainda que temendo por ele e torcendo por suas vitórias, ouvia o eco de minha voz em seus ouvidos surdos. Vesti-me de negro, encolhi, conformando-me, recolhida e pequena. Mas não era mais sua pequena.

Vi-me murcha, flor sem nutrição, e decidi que não murcharia, nem secaria mais. Levei aos poucos o amor a ele dedicado para o quarto das lembranças, junto com a peça - tecida com fios de esperança - no aguardo resignado pelo amor do guerreiro, por afagos e afetos. 

Não pense que não me dói, D. Maroca. Abandonar a mulher de Atenas que fui apenas para ele - e sempre quis sê-lo - para, guardando os sonhos numa caixinha apertada no fundo do baú do último quarto do corredor, seguir a vida, virar a folha, como quem arranca a página de um folhetim.

Mas, assim é a vida, feita de escolhas, não é? Eu fiz as minhas e não me arrependo de nada nessa história. Tudo valeu a pena.

Fique bem e não esqueça de alimentar os sonhos.

Forte abraço,

Anita L.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Alberto Tibaji: Visita a Evandro

Alberto Tibaji: Visita a Evandro: Querida Anita . Saudades. Hoje estou pela primeira vez na nova casa de Evandro. Chegamos. Ele não entra. Precisa, como de rotina, parece, ...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Quereres?

Caio: As coisas só terminam, quando acabam. Acabou. Era isso que tentara dizer. Tens razão em ser rude, mas te enganas se achas que amo alguém que não és tu. É que te amei um dia e de tanto amar-te, me agarrei a este amor tanto e tão profundamente que quando ele deixou de ser, eu ainda era [tua]. E assim sendo, já não era livre.

Estava enredada na história que vivemos, nos momentos bons que partilhamos e não via que não éramos mais. Não me dei conta que nossos momentos agora, eram reprises desbotadas do que fôramos, mera repetição. Não conseguimos nos reinventar.


Mas sou insistente, tu bem sabes. E fui ficando. Tentando encontrar em ti aspectos não percebidos, novidades, tentanto inventar momentos partilhados, afetos compartidos. Não, tens razão, não foi possível. Não por que não sejas, mas por que eu já não sou. E sendo outra, quero mais.


Quero mais da vida, quero mais do amor. E não é o tamanho do que me dás que não é suficiente, se me desses a lua e as estrelas ainda assim, não serviria.  Por que é essa novela reprisada no meio da tarde que não me satisfaz. Mas as cartas [ah! as cartas...], destas não abro mão. A poesia dessas missivas é o que ainda hoje nos conecta.

Então, sigamos...sigamos...

A.L.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Alberto Tibaji: Querida Anita

Alberto Tibaji: Querida Anita: “O quereres e o estares sempre a fim Do que em mim é de mim tão desigual Faz-me querer-te bem, querer-te mal Bem a ti, mal ao quereres assi...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Alberto Tibaji: Resposta ao reencontro

Alberto Tibaji: Resposta ao reencontro: "Querido Pedro . Devo confessar que me assustei com sua vinda. Também me irritei. Num período tão curto, pessoas tão díspares me visitaram: v..."

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

Caio,

Caio,
Longe de ti eu tenho sonhos. A teu lado não vivo, sou vivida. Sou tragada pelas horas que se arrastam entre um encontro e outro.
Longe de ti eu tenho sonhos! Todos os dias são ensolarados, frescos e repletos de desejo... Desejo pela vida. E ainda posso sentir saudades.
Contigo eu arrasto correntes e o tempo nublado e denso paira sobre minha cabeça. Eu vivo para ti e por ti. Todo o sentido aí fica contido. Nada faz brilhar os olhos e a vida se contenta em ser uma sucessão de horas e minutos, a espera do momento supremo de servir te. Sou inteiramente devota a ti.
A teu lado, já não existo por mim.
A teu lado minha alegria é tua, como o meu prazer é teu. Fico alheia aos sonhos e os desejos estão condicionados aos teus.
Longe de ti tenho sonhos e sou livre, com imensas asas brancas numa montanha alta, bem alta. Lá - longe de ti - posso voar. Eu realizo tudo e sou grande! Contigo não me reconheço. Vivo tão somente para te servir e abandono-me na beira da estrada.
Longe de ti tenho sonhos e posso te amar por inteiro. Sinto teu cheiro e desabrocho. A teu lado, vou murchando e murchando e murchando. Não me reconheço e procuro meus olhos onde eles não estão.
Respeito, honro e valoro teus esforços na busca por ti, mas ainda é assim que me sinto. Por isso a demora em responder-te.
Fica bem e força no teu caminhar. Da que sempre te amou,
A.L.

domingo, 26 de junho de 2011

Volta

Caio Marques ficou para trás PT Onde? Quem o deixou para trás? Não sei como está nem se voltará PT Muito carinho para todos PT Já sinto a falta de Maria Anita VG Cecília VG Pedro VG Haru VG Thaís VG Dom Quixote VG Vitor e Bernardo PT Avisem chegada para eu dormir tranquilo PT Saberão quanto vale esta visita PT Muitas cartas em breve PT Agora sol brilha mais intenso PT Mais do que nunca VG Alberto Tibaji

sábado, 25 de junho de 2011

O Reencontro

Querido Alberto,
Não sei se lembra de mim, confesso que com o tempo eu fui me esquecendo de como você era...Eu sou o Pedro, se lembra? Seu namorado das eras. Pois é, faz tempo...
Resolvi que era um dia de me aventurar e sair da rotineira vida que tanto me estressava. A vida não está fácil para ninguém, nem mesmo para pessoas como nós. A conclusão que cheguei foi que deveria viajar... não só na estrada ,mas como nos tempos em que nos conhecemos.
A paisagem está linda, o sol está radiando coragens e loucuras. Não sei se pode me atender em sua casa, mas gostaria de lhe ver novamente. Contar as noticias, tomar um café de fim de tarde e apreciar, à noite, os bares que a cidade oferece.
Estou ansioso, confesso. Pensei em respirar ar puro, e quando digo isso, estou me referindo ao meio de transporte que escolhi: uma bicicleta. Preferi assim, pelo meio ambiente e para de certa forma, me transformar, tentar algo novo, sabe?
Muitas coisas mudaram, na época em que nos conhecemos, se lembra que eu só aceitava ir se fosse de carro e de ar condicionado?! Depois de muitos acontecimentos em minha vida, decidi que era hora de mudar alguns conceitos e perspectivas de vida.
Falando nisso, me casei. Sim, me casei. Tenho uma filha linda, Marília. Mas não me casei de um jeito convencional, devo dizer. Me casei com um homem, Edson. Quem diria, meu amigo, eu , que achava que você seria o único homem da minha vida, me casando com nada mais nada menos, um outro homem.
O deixei em casa, junto com Marília. Queria essa viagem sozinho , como disse, sair do meu rotineiro cotidiano, mas com o tempo que levo para chegar, é melhor me esperar para o café.
Será que poderíamos nos encontrar? Preciso falar contigo. É urgente.
Do seu velho amigo,
Pedro.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Uma breve volta


Agora é possível começar uma carta assim, te chamando de querido. Depois de tanto tempo longe foi possível digerir minhas mágoas e transformá-las em uma quase gratidão (o perdão é coisa difícil, quase uma obra de arte que demora a ficar pronta).
Escrevo para avisar que estou voltando uma volta temporária, pois volto pra casa com a certeza de que aí não é mais o meu lugar. Mesmo assim volto pra poder olhar nos seus olhos, pra poder tocar nas suas mãos, pra poder dizer que hoje em dia você nunca ter sido meu de verdade não me faz mais ter dores intensas. Volto pra casa sentindo o vento seco na minha pele tantas vezes úmida, em vão...
Andei por aí nesses últimos tempos. Ouvi o canto de vários pássaros, conheci a vegetação de quase todos os cantos, me habituei a alguns sotaques diferentes, atravessei fronteiras distantes, principalmente as minhas próprias.
A verdade é que não conseguiria permanecer por perto sabendo que eu nunca deixaria de ser amada pela metade, que vivíamos uma mera convenção da sua parte e pura fantasia da minha.  
Parti com o coração partido e grata surpresa foi ir descobrindo aos poucos que eu era mais forte do que eu supunha, que o mundo era mais vasto do que eu poderia imaginar vivendo a vidinha de ser dedicadamente conformada em não ser a minha boca, o meu corpo, a minha alma o que você mais ardentemente desejava.
Desculpe-me não ter dito adeus – seria pedir muito a mim... Eu simplesmente não pude fazê-lo. Sair assim, sem domesticar meu impulso, sem me limitar pelos bons modos, sem fingir que estava tudo civilizadamente bem foi o primeiro passo para eu descobrir que tenho no fundo da alma algo de indomável que só pôde ser descoberto no misto da minha fúria e frustração.
Te digo que sim, um pouco de tudo o que eu senti ainda tem um gosto amargo, mas um pouco de amargura será necessário para seguir a vida que eu decidi seguir. Não me leve a mal se eu não tiver mais no rosto a expressão doce que eu costumava ter há alguns anos atrás...
Estarei aí em breve. Quero te ver. Quero te agradecer pessoalmente por ter me feito ir embora, por ter me permitido, a partir de suas descobertas, me descobrir também. Quero muito te ver e, em nome dos velhos tempos, compartilhar um segredo com você.
Um beijo,
C.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Alberto, querido..

Caio A(lberto), querido..

A viagem iniciou com o dia.
A paisagem até aqui revelou campos e eucaliptos dourados pela seca que se inicia. O calor povoa o ambiente, deixando o ar rarefeito. Olho em volta e imagino por onde andará Caio, aquele que a pouco começa a revelar-se. Mais um pouco de caminho e me distancio do caminho para me aproximar do destino. Por onde andará meu coração? Aqui, ali ou acolá? Na origem, no destino ou no caminhar?por onde andará Maria Anita?
Chego já...

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Alberto [Caio X],

Tua resposta me arrebata. Sinto-me tão presente e tão inteira agora. Embora seja o que sou, sou o que falta dizer sobre mim. Sou a experiência dita, a mentira vivida e a vívida mentira dos dias que me acompanham. Soou tão teu o relato sobre aquele que mentia, mas soou também parte do que vivemos [vivemos?]. Nossa mentira profunda e verdadeira, sobre um amor não correspondido ou amor inventado, exagerado, intenso e manso. A um só tempo um conflito em branco e preto, um espaço, um ponto e uma linha.

Aquele Caio que fostes causou em mim tanto que tive de despir-me completamente, distraidamente diante de ti. Desejo oculto? Inconsciente talvez. Desejo de viver com Caio a história, mas com que Caio quisera viver? Afinal, quem é Caio? E que história é essa que não vivo e persigo dia após dia. Estarei em busca do fim do arco íris ou tocar o horizonte com a ponta dos dedos?

De repente me ocorre que minto também ao abandonar o que vivo e me jogar nos braços do que gostaria de viver [fantasia?]. Talvez nunca esteja onde estou, mas onde gostaria de estar [passado ou futuro]. Assim que o tempo vivido é na verdade sonhado, intocável, surreal. Sinto-me uma criança pequena na ponta dos pés tentando sem êxito alcançar o inalcançável.

É, por certo, mais uma ficção inventada por mim. Um papel, uma máscara, uma cena para ver-me livre da enorme responsabilidade por quem sou [quem sou?]. Ficção, tenho escolhido a ficção, onde a vida real talvez me trouxesse a sorte de um amor tranquilo e cálido, prefiro as peripécias e dramas do amor criado e (re)criado a cada carta.

Caio, o verdadeiro Caio, se é que existe um verdadeiro percorre um caminho de despir-se diante de si e olhar-se no espelho. Vê a criança que foi e o homem que se tornou. Ele me conta, e suas cartas me despiram a alma, por isso a confissão que precisava fazer. Estou farta da farsa, só não sei ainda como livrar-me das máscaras. Por tanto tempo estiveram aqui, que sinto não saber como removê-las. Tampouco posso prever o debaixo delas há.

Mas fez-me bem ler teu nome, acompanhado do sobrenome: tão sonoro! Alberto Tibagi, muito prazer, Maria Anita Lopes do Canto. Despida diante de ti e a caminho da verdade que falta e da verdade que sobra.

Sua sempre,

M.A.L.C
[A.L.]

Alberto Tibaji: Fim de uma farsa

Alberto Tibaji: Fim de uma farsa: "Querida Anita [Anita?], Há quanto tempo longe da tua companhia... Fazes-me falta! Perdão pela minha traição. Peço. Acabo de pedir. Creio qu..."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Bilhete

Caio M.,

Segundo Bataille,'' nas experiências extremas do amor e (ou) do erotismo, o indivíduo põe violentamente em crise todas as próprias certezas e coloca a si mesmo numa condição existencial de desequilíbrio.''

Sua, A.L.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Do Fundo do Meu Coração - Adriana Calcanhoto (Elas Cantam Roberto Carlos)


Contradições

Caio,

Sua volta me colocou num turbilhão de sentimentos contraditórios. Ao tempo em que sei que não há como colar caquinhos tão pequenos e reconstruir a confiança, tenho esperança de que você, desta vez, queira se reinventar.

De um lado sinto uma raiva enorme e todo o peso da dupla traição - tripla, talvez - de outro quero você para sempre ao meu lado.

Vem, vem... vamos ver o que nos reservam os dias vindouros.

Abraços,

Anita

segunda-feira, 18 de abril de 2011

domingo, 10 de abril de 2011

A Casa da Felicidade

Olá Caio,

Tanto tempo. Sei que estás muito ocupado com as novas atribuições. Sei que te preocupas com os desafios e obstáculos que tens encontrado. Não te apoquentes. Siga, siga seus caminhos, realize suas aspirações, materialize vitórias e, se quiser, me escreva.

Estarei aqui. Escrevendo e escrevendo, não importa se haverá ou não resposta. Decidi que assim será, até que decida o contrário. Parece óbvio? E é. Mas não sou assim afinal? Algo óbvia, algo surpreendente vez ou outra?

Ontem tive um sonho. Um estranho sonho. Não era bom, nem mau. Apenas era o que era. Chegava a um lugar com portas enormes. Não havia placa ou identificação, nenhum cartão ou papel, nem aviso ou sinalização, mas eu sabia - coisas que sabemos por que sabemos - que ali era a casa da felicidade.

As portas eram enormes, logo fui avisada que estavam fechadas por prazo indeterminado. Uma sombra cobriu meu olhar, tornando mais castanho do que é. Sorri levando os olhos à terra dos sonhos, dos desejos ainda não realizados e quase me virava para partir quando o porteiro me chamou num canto e mostrou um lugar secreto por onde entrar. Não sem me prevenir que era uma passagem secreta e que o segredo não poderia ser revelado a pessoa alguma. Menos ainda que havia sido ele a me mostrar o caminho.

Temerosa, não gosto de segredos, sabes disso, segui-o até a entrada. Parecia simples e reta, embora escondida. Caminhei confiante em direção ao centro da felicidade, tudo cheirava tão familiar. Os sons tomavam conta dos meus sentidos e percorriam minha pele - cada milímetro dela - e produziam um êxtase que há muito não sentia. Algo conhecido e distante.

Por instantes fechei os olhos e me entreguei àquele universo de sensações, mergulhei nos sons e nas cores. Fiquei completamente embriagada pelos sabores, foi como ser Proust e morder uma madeleine...Ou como ser eu mesma e dar uma boa lambida num sorvete de açaí, ficar com a língua roxa, a boca roxa, até os dentes  e feliz.

De repente...Uma parede! Sim, Caio, onde era mar de sensações surgiu uma parede. Ouvia uma voz que dissera:

Não pode!
Não fale!
Não prove!
Não pergunte!
Não expresse!
Não respire!
Não!

Sussurrara: apenas sinta, sinta agora. Fechei os olhos devagar, mas o eco das palavras ainda enchiam o ambiente. Quem se importa, pensei... apenas sinta...

Acordei inexplicavelmente feliz, previsivelmente frustrada e quase não me reconheço. Exceto por que quis compartilhar contigo, não tenho ganas de remexer o assunto. Que as sensações e sentimentos e todas paredes que se erguiam, uma após a outra, a cada não que escutara fiquem ali, no mundo dos sonhos estranhos, na ilusória casa da felicidade.