Querido Caio,
Como estás? Roubei! Confesso. Roubei o título do espetáculo e alguns fragmentos que ficaram ecoando em meus ouvidos por horas.
''...em matéria de amor o mínimo que peço é excesso.'' O mínimo que peço é excesso, compreendes? É o mínimo que peço. Tão forte esse trecho. Ecoou, ecoa... Excessos...Peço... De súbito cesso os pedidos.
É por acaso amor artigo que se peça?
Parto rumo ao corriqueiro, me entrego à rotina. [Des]peço. Caminho pelo lusco-fusco de sentimentos e de emoções sem diferençar o virtual e o atual. Impacto do silêncio infindável penetra fundo. Abre caminho, ocupa minhas fendas. Não preenche os buracos. [Estratégias para estar sobre a Terra?]
Sou dessas - tu bem sabes - não aprendi a viver pela metade, não sou comedida, nem blasé. Em matéria de amor me escondo com o mesmo furor com que me entrego. Com a mesma rapidez que abro a porta, a tranco a sete chaves. Medo e desejo na mesma medida.
Não sei ler mapas, nem entrelinhas, sou analfabeta em matéria de silêncios. Aliás, silêncio é terreno fértil. Em se plantando tudo dá. Desisto de plantar [e de colher]. Levanto os flaps. Faço voos solo, sem riscos, sem dor, sem excessos, sem nada. Sigo.
Sempre sigo, afinal, não é? Sou uma sobrevivente. Sobrevivo a tudo, ao mesmo tempo em que o som de um assovio fino, apavora. Faz correr léguas e me jogar no abrigo antibombas da minha própria companhia.
Sou carcará e ao mesmo tempo passarinho assustado diante do predador. Fujo. A parte que permanece sempre parte. Parto. Sigo adiante levando um monólogo no currículo.
Sempre tua,
Anita Lopes
"Sigo adiante levando um monólogo no currículo." é magistral!
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