terça-feira, 29 de agosto de 2017

Da força e da solidão dos Canyons







Querido amigo,


tua missiva me deixou sem fôlego. li, reli, li ainda umas vezes. a leio agora, momento em que a resposta urge. 

quando nossas letras se encontram, sinto a força da poesia que nos conecta. a escrita, minha paixão, é o que mais lindamente partilho contigo. é o lugar de encontro longo e profundo entre nós. ler-te é como olhar nos teus olhos por longos minutos sem pausa. é mergulhar em ti e permitir ser penetrada por um misto de suavidade e força. 

quando leio-te encontro também prazerosamente comigo e com uma parte escondida de mim. não saberia expressar onde está. mas este encontro é inevitável e inolvidável. 

estou algo sem palavras desde ontem. tua carta trouxe uma quietude para meu peito. de súbito foi como se estivesse no alto de um canyon, entre falésias e escarpas avermelhadas pouco antes de nossa hora sagrada. observando em silêncio as sinuosidades da geografia que se apresenta. sinto o vento cobrir minha pele com seu sopro quente. olhos abertos diante da magnitude da paisagem e da atenção que requer percorrê-la, é onde estou. 
o terreno é desafiador e tão alta a queda em qualquer passo em falso. profunda expiração coloca-me no centro. de pé sobre meus próprios pés e a paisagem à frente. há tanta força e beleza. requer cuidado a escolha de fazer a arqueologia desse lugar. tantas pedras soltas, meu olhar transita entre rochas macias intercaladas por camadas duras. silêncio me toma desde então. a paisagem me chama, a cautela reclama. e tudo acontece em meio às altas temperaturas dessa geografia desértica. a boca seca. quero ver-te, concluo. 

quero ver-te por esses longos minutos de olhos nos olhos em total silêncio como quem aprecia a fenda entre dois cumes. quero ver-te sem saber tudo oq ue a paisagem reserva e revela. 

quero ver-te antes da décima lunação. quero ver-te antes da partida. depois da chegada. quero ver-te simplesmente. 

será que lerás esta mensagem a tempo?

que as bençãos das deusas se derramem sobre ti.

que as águas de Oxum te banhem levando tudo o que não te serve mais e trazendo o frescor de novas possibilidades. 

que os ventos e as tempestades de Iansã se acalmem em teu peito, mas não em teu corpo. 

quero ver-te!

Anita L.




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