sexta-feira, 27 de abril de 2012

Carta a Alberto

Querido Alberto [ou serás Caio X?},

Sinto-me transbordar. Tanto tempo sem essa sensação. O tempo voa e em suas asas planas equilibram-se histórias de um passado remoto, que teimam em ressurgir. Em vão. Meu momento é agora... e nesse tempo transbordo.

Sou toda emoção desde alguns dias quando num tropeço encontrei [me]. Sim, em meio à multidão encontrei [me]. Foi rápido e fugidio o encontro. Foi mesmo surpreendente e pareceu passageiro. Mas não foi. Algo de mim ficou, algo veio comigo para casa - refúgio das minhas sentimentalidades escondidas - e guardou-se tentando adivinhar o devir.

Veio comigo e assim foi. E é [mas o que seria?]. Juro que não saberei nomear, mas sei sentir e sinto. São sensações contraditórias e o corpo é o mensageiro delas. Calor e frio se alternam no tempo/espaço desse devir [ou seria o contrário]. Há um impulso e o pulso. Sim, o pulso pulsa esses sentidos sem nome, sem respostas e sem perguntas.

E vive a incerta certeza de ir aos poucos se entregando ao transbordar. As certezas [há certezas!] estão ali, expostas como veias abertas e eu olho fixamente para elas. Não há respostas possíveis, nem questões prováveis. Não há margem para perguntas, sequer chego a ter dúvidas. Então, apenas olho. E dou-me conta que a criança de cinco anos às voltas com suas infindáveis indagações, aquietou-se.  E seu silêncio dá espaço para o sentir simplesmente. E sinto. E no sentir uma menina travessa faz estrelinhas no corredor infinito, conclui de pé o exercício, bochechas rosadas: suada, feliz e de pé.

A mulher que gosta de balanço a tudo observa e sorri seu sorriso sereno. Tudo parece estar onde está. E assim é, querido Alberto. E assim tem sido dias passados. E de ti, que podes dizer?

Sua [sempre]

Anita

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