quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ao Caio Marques

Não. Não vivemos juntos, Caio. Viver junto no sentido que trazes é compartilhar planos e sonhos. Nós, por um breve espaço de tempo, compartilhamos o teto, os dias, as refeições, a rotina, a empregada e o endereço. Não, nós não vivemos juntos jamais.

E nesse sentido percorro aqueles dias olhando atentamente para cada instante, buscando um olhar realista para o que vivemos. Sonhei por nós dois, planejei por nós dois. Nós vivemos aqueles dias juntos, cada um a seu modo, cada um vivendo sua própria fantasia, vestindo sua própria realidade.

Talvez tu te chames Ishmael e não Caio. Talvez eu tenha criado Caio para ser a imagem e semelhança de minhas fantasias. Caio então teria tornado-se tão real que de criatura passou a criador? Teria reescrito nossa história segundo suas próprias expectativas? Ou talvez Ishmael seja criação dessa expectativa por um companheiro para quem fazer planos - e realizá-los - seja igualmente um valor a ser experimentado. As palavras, sempre elas, mesclando fantasia e realidade, virtual e atual fazendo de um, outro a depender do campo léxico de quem escreve, do vocabulário de quem lê.


Afastamento, talvez essa fosse a palavra mais apropriada para o que se deu conosco. O convívio entre realidade e fantasia tornou necessário o afastamento e assim aos poucos nós tomamos caminhos tão distintos.

Talvez, e é assim que tenho sentido, a fantasia tenha se tornado verdade ainda que tardia. Mas como posso sentir por você? Não sei sequer o que realmente sinto - ou quero de nós dois - hoje que estamos tão distantes. Como poderia saber dos seus sentidos? Há sentido no que vivemos? Há sentido no que viveramos?

Há sentido em nos mantermos em contato? Sentido não sei se há, mas sinto quase uma necessidade de te ler, de compartilhar contigo o que em mim se passa.

Seja Caio, seja Ishmael, call me Anita. Anita Lopes, aquela que mesmo sem saber o que pode significar o amor, ama. Incondicionalmente ama. Instransitivamente ama.

Sempre sua,

Anita

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