Amigo,
Espero que essa carta te encontre no cume dos montes do mundo, sentindo a brisa fresca dos fins de tarde e admirando as paisagens ao teu redor acolhido pelo silêncio dos encontros inesperados.
Minhas tardes fervem enquanto a ponta dos meus dedos buscam quase sem sucesso encontrar teus fios negros cheirosos de amendoas. Nem a distância do braço alcança hoje o céu dos teus olhos no meio da tarde morna. Eles insistem. Eu persisto na lembrança do encontro dos meus e dos teus olhos na esquina ou ajoelhados diante dos meus. Olhos que suplicam minha boca.
Farejo teus cheiros legados aos meus travesseiros, mesmo que as fronhas já tenham sido trocadas desde a tua partida. Busco ainda assim tua boca com minha boca enquanto sinto a tua tocar suave meus pequenos lábios [grandes] no infinito silêncio desta e de outras tantas tardes depois daquela. Os passarinhos continuam a fazer back vocal para o encontro das almas e dos corpos nas janelas da sala, do quarto e do mundo que tecemos juntos por instantes.
Minhas tardes, devo te contar, ardem e pulsam esperando teu retorno, minha partida, nosso encontro e os teus toques lindos em minhas profundezas úmidas.
Minha boca busca teus caminhos novidosos e me conduzem a túneis de êxtase e de fome.
Gosto de quem tem fome e aprecia os suaves sabores vindos de longe. Gosto de quem se arrisca e experimenta o que não conhece com gentileza e afeto.
Desejo que esta carta te encontre brilhando o extase das memórias que cozemos juntos com cheiro de café colombiano.
Tua
Anita