sábado, 13 de abril de 2019

Corro léguas

Caio,

Sem qualquer savoir faire, cá estou escrevendo o rol de idiossincrasias que me traduzem. É necessário e urgente! Preciso expressar [gritar no alto de um serro] minhas vulnerabilidades.

Cá estou cansada de me apresentar em pequenas grandes porções parfait chocolat. Um resumé de grandes realizações.

Cá estou e onde mora eu real? Fico a me esconder até detrás de linhas poéticas escritas em cartas quase anônimas.

[Basta!]

Cá estou. Não sei ser diante de ti. Justo tu, que te despes diante de mim.

Cá estou ouvindo e vendo o real. Sem disfarces. Eu aqui [in]defesa atrás do escudo.

Compreendo. Sempre compreendo com ares aristocratas.

Cá estou me mostrando a heroína que vence batalhas, dragões, medos. A que supera obstáculos. Que conhece os breus da existência  e já atravessou a estrada escura. Contando as vitórias.

Cá estou tropeçando em minhas próprias pernas, [in]segura diante de um homem e suas circunstâncias.

Cá estou [im]potente diante de minhas circunstâncias a arrancar a própria pele. Deixo-me aqui abandonada aos insetos para então [res]surgir sem tantas coberturas. Hoje morro um tanto mais.

Cá estou atravessada pelo desejo de fugir. Correr léguas. Pela vontade de ser impedida de escapar, como um vulto atrás de cortinas translúcidas a espiar a janela.

Cá estou farta do show de Trumann.

Apenas uma mulher diante de um homem. Sem mapas.

Cá estou: Pronta [sem escudos] para o encontro. Eu diante do espelho, armada de batom e de medo.

ainda tua,

Anita Lopes


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